terça-feira, 25 de setembro de 2007

Na ponta da agulha


Eles já foram febre mundial e são os responsáveis pela repercussão de diversos artistas que, até os dias atuais, são considerados verdadeiros ícones no campo musical. Por todo o charme que possuem, são o “black tie” utilizado em ocasiões mais sublimes, onde se cria uma atmosfera mais elaborada, semelhante a um ritual. Assim é o universo do vinil, essa mídia que foi jurada de morte pelos CDs e MP3 players, mas que atravessa décadas encantando gerações e sobrevivendo à poeira e ao esquecimento, seus maiores inimigos.

Desenvolvido no início da década de 1950, o disco de vinil trouxe a possibilidade de gravar mais músicas, com uma qualidade sonora superior, onde cada lado poderia ter até 20 minutos de reprodução, caso dos LPs – Long Plays, discos de 31 cm de diâmetro, que tocam a 33 1/3 rotações por minuto, e foram mais utilizados na veiculação de álbuns completos. Outro aspecto que contribuiu para a aceitação dessa nova tecnologia foi sua durabilidade e resistência a quedas, choques e manuseio, sendo também mais leves que os discos de goma-laca, de 78 rotações, utilizados até o fim dos anos 1940.

É possível afirmar que a era do vinil engloba o período mais rico e criativo da música, desde os detalhes metodicamente costurados pelos eruditos, passando pela preciosidade melódica e virtuosismo dos jazzistas, até as inovações rebeldes do rock e o romantismo embalado pelas ondas da bossa nova. Também esteve presente no século mais conturbado da história da humanidade, o século XX, onde sentimentos díspares se viram de mãos dadas, lágrimas e alegrias em meio a duas guerras de proporções mundiais, reunificação de povos, revoluções no âmbito do comportamento, paz e amor, fogueiras de sutiãs. No Brasil, os amores adocicados e as belas musas cariocas que seduziam “inocentemente” os malandros, o silêncio da ditadura e a euforia do futebol. Cada fato foi eternizado nas ranhuras do vinil, que serviu como suporte para aqueles que preferiam musicar suas emoções mais intensas, transformar em canção aquilo que estava diante de seus olhos, uma atividade antiga, registrada principalmente nos Salmos da Bíblia e que se constitui em uma das mais importantes artes que o homem desenvolveu.

Em tempos de música “compacta”, com a praticidade de colocar trilha sonora em todas as atividades diárias, por meio de listas quase quilométricas, principalmente com o advento do MP3, são poucas as pessoas que ainda se dispõem a comprar e ouvir discos de vinil, mas em Maceió existe um grupo de apaixonados que não se desfazem desse hábito, considerado por seus adeptos como uma terapia que devolve o ânimo por proporcionar instantes de prazer. Através do vinil, eles fizeram amigos, adquiriram conhecimentos sobre a história da música e passaram a reunir acervos com verdadeiras raridades.


Trabalhando com sucessos


O preço de um disco de vinil varia entre R$ 0,50 e R$ 3.000,00, ou mais. Tal variação se deve a aspectos referentes à raridade, séries especiais, estado de conservação, fatores muito prezados pelos colecionadores. Kinkas, proprietário da loja O Vinil, que trabalha a pelo menos 36 anos nesse ramo, diz-se um admirador do vinil, possuindo uma coleção de cerca de dez mil discos, com preciosidades pelas quais tem o maior cuidado: “Tem discos que não troco, não empresto, prefiro nem mostrar”. No intervalo entre um telefonema e outro - o telefone tocava repetidas vezes, com pessoas perguntando sobre a chegada de discos e pedindo para que ele fizesse gravações de discos para CDs, um serviço bastante requisitado, ele falava sobre o que diferencia o vinil das outras mídias: “Veja só o vinil: ele é rico em informações, já na capa, parece até um quadro”. Kinkas faz tal afirmação pelo fato dos LPs apresentarem algo trabalhado, como a disposição de cores e letras, contendo informações técnicas que situam o ouvinte: “Eles sempre têm o ano e, às vezes, a data do disco, coisa que o CD não faz”, afirma. Ele acredita que o vinil saiu do mercado devido a uma manobra para a inserção dos CDs, mas acredita que a procura por ele nunca vai acabar.

O negócio começou com seu pai, também conhecido como Kinkas, quando este abriu uma loja de discos, na cidade de Rio Largo, onde vendia os exemplares que acumulou nos tempos em que teve uma boate chamada Xarangá. A loja não possuía nome, mas era bastante conhecida. “Quando a gente trabalha com sucessos, a venda é maior”, diz Seu Kinkas, em referência à época em que entrou nesse ramo. Contando com serviço de som, tão típico às cidades de interior, o estabelecimento depois foi transferido para Maceió e se instalou na Feira do Passarinho. Ele abriu ainda um ponto no Mercado da Produção, mas, há três anos, sofreu um acidente e parou de trabalhar.

Com 80 anos, Seu Kinkas não conseguiu se aposentar, embora tenha trabalhado boa parte de sua vida, não só com os discos, mas em várias fábricas de tecidos. Dizendo ser uma pessoa sentimental - “qualquer coisa faz meus olhos ficarem cheios de lágrimas”, ele relembrou os nomes da música brasileira que mais o agradam: Sivuca, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e João Gilberto.


A magia que encanta novas gerações

Mas quem pensa que essa paixão é só para quem conviveu com os bolachões, uma forma carinhosa de chamar os discos de vinil, está redondamente enganado. Gabriel Passos tem apenas 13 anos e, desde 2003, alimenta uma coleção que já chega a 1.504 exemplares, todos originais, visto que ele tem preferência pelos clássicos e pelas raridades. Sua primeira lembrança de um contato com os discos é de quando possuía três anos de idade, na fase das descobertas, ao encontrar alguns LPs, enquanto mexia nos CDs de seus pais. Os anos passaram e ao completar nove anos, reencontrou o elo perdido com a música e iniciou, sem a influência de ninguém, uma coleção de discos, cujo ponto de partida foi a obra dos garotos de Liverpool, os Beatles.

Gabriel ia sempre às quintas-feiras comprar discos e, em apenas um ano, já estava com 700 álbuns, mas foi entre 2004 e 2005 que deu um grande salto, passou a freqüentar os “recantos” e a conhecer colecionadores. Dessa forma, adquiriu uma bagagem cultural e intelectual não só no âmbito da música, mas em assuntos ligados à história, em especial dos anos 1960 que, junto com os anos 1950, compõem o período que o garoto mais aprecia, pois ele afirma, com muita certeza, não ser eclético. Seu acervo compreende obras, principalmente, da década de 1910 até 1970, desde artistas mais famosos, como Beatles, Rolling Stones, James Brown, Dave Brubeck, Jair Rodrigues, Elizeth Cardoso, Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Martinha – inclusive trabalhos em espanhol desses três últimos e Moacyr Franco cantando Soul Music composta por Pelé, até discos do que denomina “Jovem Guarda obscura” e músicas caseiras. Dentre os artistas fora dos holofotes estão: Hibernon Tenório, The Killers – uma banda uruguaia de 1970, Edson Wander, Ave Sangria, Procrol Horum, entre outros.

Apesar do seu hábito de comprar vinil, Gabriel adquire alguns exemplares através de trocas e doações, tendo, inclusive, álbuns que vieram de acervos de rádios. O contato com outros colecionadores, em geral mais velhos que ele, trouxe-lhe muito conhecimento, é realmente impressionante ver uma pessoa tão jovem com tanta noção de história política e social, brasileira e mundial, então, pode-se afirmar que o universo do vinil é também sua escola. Sobre a qualidade sonora dos LPs, ele explica de forma sinestésica: “Nele, a música fica mais solta”.

Para ouvir as obras de sua coleção, Gabriel conta com quatro vitrolas, uma Philips portátil - 1960, uma Philips - 1970, uma National americana – 1960 e uma Gradiente Pick Up. Sobre o que os discos de vinil representam na sua vida, ele, após uma longa pausa, diz: “Como diz um amigo meu, eu como vinil no café da manhã, no almoço e no jantar. Minha vida, meu hobby, minha ocupação principal são os discos. O vinil é tudo na minha vida!”.

Já Raul Spinassé, 19 anos, estudante de Jornalismo do Cesmac, passou a se interessar por discos há cerca de três meses. Tudo começou quando viu a coleção do pai de um amigo seu: “Fiquei encantado! Então, imaginei que ninguém dá valor e eles são preciosíssimos...”, reflete. Atualmente, compra apenas os discos que mais lhe atraem, porém, seu objetivo é estudar sobre a história da música, pesquisar sobre a carreira dos artistas e tentar adquirir seus trabalhos. Sua primeira aquisição foi o Disco Dois, da banda Legião Urbana e sua, por enquanto, pequena coleção conta com álbuns de Chico Buarque, Noite Ilustrada, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Simone, Cazuza e Vinícius de Moraes, além dos discos que tem recebido de um tio. Trabalhando com fotografia, sempre reserva uma quantia para a compra de discos de vinil, que, na sua concepção, têm o poder de transportá-lo para outras épocas.

Ele faz uma interessante observação: “O mágico do vinil é que não dá para pirateá-lo”, e a pirataria realmente não era um problema para os artistas que imprimiram suas obras em vinil, entretanto, é uma questão muito pertinente ao mundo dos CDs que, além de conviver com uma frenética reprodutibilidade, ainda tem que suportar os ciclopes, ditos musicais, que invadiram o mercado fonográfico - com raras exceções, e fomentam o saudosismo em relação aos tempos em que a música era algo bem elaborado, que alimentava a alma e dava um tom poético à vida.


Informações


Quem aprecia o vinil ou deseja comprar agulhas para sua vitrola, pode visitar, além da loja O Vinil, que possui um acervo de sete mil exemplares, as lojas: Casa Barbosa, Cantinho da Música, Eletrônica Universal e Mundial, e os alfarrábios no Centro da cidade. As agulhas custam entre R$ 8,00 e R$ 100,00. Caso seja muito difícil de se encontrar, Kinkas sugere que se troque o cabeçote da vitrola, cujo valor é superior a R$ 50,00.

Gabriel Passos tem um projeto de criar o Clube do Vinil, onde todos os colecionadores poderão trocar informações e discos. Os interessados em entrar no clube podem entrar em contato com ele, através de seu e-mail: mistervinil@gmail.com

Arte popular nos salões do Palácio



Uma romaria de pés de madeira; um altar com cabeças, fitas e terços; quadros com imagens de santos; mãos, pernas e braços; as cenas do cotidiano retratadas em madeira e sucatas numa intensa explosão de cores: muito amarelo, branco, azul e encarnado. As nuanças sagradas e profanas da cultura popular pousaram nas salas do tradicional e imponente Museu Histórico Palácio Marechal Floriano Peixoto, localizado na Praça dos Martírios, com a exposição Coleção de Arte Popular Tania de Maya Pedrosa, que apresenta uma parcela do acervo da artista plástica.

A abertura da exposição ocorreu no dia 21 de agosto, com a presença de apaixonados por cultura popular e interessados no assunto. Sobre a busca acentuada do público por elementos dessa veia artística, ela explica: “as pessoas procuram entrar nessa vertente porque ela dá alegria a quem a contempla, dá mais alegria para quem a estuda e mais alegria ainda para quem a conhece. É um encanto para quem se dedica, transforma-se numa compulsividade: quanto mais você conhece artistas, mais você quer conhecer; quanto mais você faz comparações entre os lugares onde vivem os artistas, mais você quer fazer. Você fica insaciável”. E pelo que se pode notar, essa alegria é um ciclo interminável.

A idéia de realizar essa mostra surgiu há algum tempo e foi concretizada quando Tania Pedrosa recebeu o convite de Osvaldo Viégas, secretário de Cultura do Estado. Ela, que já foi conselheira de cultura, nutre um profundo amor pela arte popular, embora já tenha estudado arte erudita, realizou diversas viagens por Alagoas e regiões do Nordeste, a partir de 1969, com o intuito de conhecer os ateliês dos artistas, além de suas vidas e aspectos referentes ao lugar em que vivem, assim, iniciou a aquisição de obras, com foco na arte pictórica, como quadros, e só depois esculturas. Dessa forma, acumulou um acervo de 1.500 peças, das quais selecionou 422 para a exposição, de curadoria de Romeu de Mello Loureiro e montagem de Jerônimo Miranda, segundo Tania, “um grande conhecedor de arte popular”.

O critério de seleção se fundamentou na necessidade de apresentar um embasamento social, cultural e antropológico, para que os visitantes pudessem analisar o desenvolvimento cultural da arte popular de Alagoas, que traz consigo toda a identidade do povo alagoano e conta sua história. Com o mapa geográfico do Estado em mãos, Tania escolheu os artistas mais notáveis e aqueles mais humildes, esquecidos, que não têm pretensão de expor e precisam de reconhecimento, bem como de ajuda financeira. Depois, olhando o mapa do Brasil, optou por representar a região Nordeste do país. Segundo ela, tal escolha foi feita pela riqueza do celeiro cultural nordestino, que possui um povo sofrido, cheio de cultura, mas com pouco acesso à globalização.

Na mostra, estão expostos trabalhos de artistas como os alagoanos: Mestre Fernando, Ronaldo Aureliano, Zezito Guedes, Sil de Capela, Zé do Bispo, João da Lagoa, Irinéia, Manoel da Marinheira, além de obras de artistas de Pernambuco – a exemplo de Mestre Vitalino, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte. Algumas delas são coletivas, às vezes, compostas por diversos membros de uma mesma família, caso de Manoel da Marinheira, revelando uma peculiaridade da cultura popular. Já os artistas que ensinam sua arte a seus parentes e pessoas da comunidade em que vivem, ou seja, aqueles que “fazem escolas”, são conhecidos como Mestres.

No caso de Alagoas, ela destaca que o Estado apresenta um aspecto muito importante para os estudos: uma cultura pouco perecível, com expressões adequadas à dura realidade que os artistas vivem, por isso tanta dedicação aos ex-votos – quadros, imagens, inscrições ou ainda representações de órgãos, geralmente de cera ou madeira, oferecidas aos santos de devoção para cumprir alguma promessa -, pois a religiosidade e a conservação dos costumes são fortes tendências no Nordeste. “Eu acredito que os ex-votos são uma parte muito importante da nossa cultura, porque revelam a relação entre as pessoas que fazem a promessa, o artista e as romarias. Essa relação começa com o sofrimento de pessoas que, muitas vezes, não têm condições financeiras de comprar remédios, então fazem promessas e se tratam com folhas medicinais. Quando alcançam a graça desejada, fazem romarias e oferecem os ex-votos, isso ocorre principalmente em Juazeiro, onde os ex-votos são levados ao Padre Cícero”, afirma.

A maioria dos ex-votos expostos é de artistas anônimos, um hábito bastante freqüente, pois a composição destes não é feita por artistas renomados. Alguns estudiosos já estão desenvolvendo trabalhos com as cabeças oferecidas em promessas, analisando suas feições, geralmente tristes e preocupadas, emitindo certa agressividade, fato esse que as situa no conceito de “art brut”, que, numa tradução literal, significa arte bruta.


Arte bruta

A art brut possui várias terminologias e foi – e continua sendo - fonte de pesquisas para muitos estudiosos da mente humana, a exemplo da psiquiatra alagoana Nise da Silveira e da crítica de arte e colecionadora Ceres Franco, brasileira que mora na França há 50 anos. Ela se constitui na expressão de imaginários mais agressivos, às vezes monstruosos, em geral figuras animalescas, com uso de expressões fortes e enlouquecidas, olhos esbugalhados, sorrisos com um ar macabro, que, embora façam parte da cultura popular, fogem aos seus moldes tradicionais, de anjos e santos, e foram inseridas na exposição por atingirem um âmbito social, psiquiátrico e artístico. Logo, os visitantes terão contato com dois universos da cultura popular: um ligado à religiosidade e outro, ao imaginário.

É interessante observar como as obras do acervo de Tania Pedrosa apresentam similaridades entre si e em relação a artistas bastante conhecidos no mundo das artes, a exemplo do pintor espanhol Pablo Picasso. De acordo com ela, isso ocorre instintivamente, por ação do inconsciente coletivo e, para melhor explicar tal fato, compara essa situação às obras encontradas nas cavernas, que estão presentes no campo artístico até os dias atuais: “Os artistas se renovam com a mesma literalidade, sem terem se conhecido”.

Considerada por Ledo Ivo, imortal da Academia Brasileira de Letras, como uma guardiã de tesouros, Tania acredita que as peças expostas e as outras que abriga em sua casa servirão não só para a apreciação, mas como objetos de estudo, visto que, se bem cuidadas, vão durar por muitos anos: “Elas podem até precisar de uma restauração, no futuro, mas nunca vão se acabar”, diz a colecionadora, que pretende transformar o acervo que possui em casa em um museu vivo, chamado “Casa do Imaginário”, sonho que pretende concretizar em breve e, para tanto, necessitará do apoio do Governo.

Tania Pedrosa atenta para a importância de divulgar os valores culturais alagoanos, inclusive para o fortalecimento da atividade turística, postura que muitos Estados estão adotando, visto que os turistas têm verdadeiro fascínio pela cultura popular. Porém, é fundamental que o alagoano conheça a arte que tanta relação tem com sua identidade e que isso se torne um hábito independente da idade que possua.


A exposição

A Coleção de Arte Popular Tania de Maya Pedrosa estará aberta à visitação até o dia 28 de dezembro, das 9h às 17h, no Museu Histórico Palácio Marechal Floriano Peixoto, com entrada gratuita. O acervo de Tania Pedrosa também está disponível no site www.taniapedrosa.com.br

sábado, 8 de setembro de 2007

Em busca do diferencial





Um fundo neutro. Branco no álbum, negro no slideshow, propício para emoldurar as imagens que retratam as cenas do cotidiano, ora imprevisíveis, ora elaboradas, surpreendentes e ousadas, sempre carregadas de emoções. O contraste é dado pela presença de duas cores: azul e rosa, que, há um certo tempo, passaram a ter um maior destaque no mundo virtual.

Com uma proposta de oferecer às pessoas um espaço para divulgarem suas fotografias, de modo organizado - como nos famigerados álbuns, contendo, inclusive, um espaço para os comentários de quem as visualiza, o site www.flickr.com, que se apresenta como “provavelmente o maior aplicativo on-line de gerenciamento e compartilhamento no mundo”, está conquistando cada vez mais adeptos, principalmente depois que a versão em português chegou à Internet. Através dele, principiantes e profissionais no campo da fotografia trocam informações sobre técnicas, iluminação, composição, bem como impressões e opiniões sobre os trabalhos expostos. Desse modo, nasce uma relação artista-obra-público, que em muito contribui para o desenvolvimento de uma percepção mais ampla e voltada para a arte, dando às fotografias uma conotação que vai além do “retrato de um instante”.

A câmera fotográfica, nos dias atuais, é praticamente um acessório. Livre dos filmes e do suspense de ter de esperar a revelação destes para conhecer o resultado do que foi fotografado, a máquina digital provocou uma verdadeira revolução no universo da fotografia: uma maciça produção, às vezes, até exacerbada, na qual nada escapa à objetiva, reuniões de família, festas, momentos de solidão, expressões fabricadas ou espontâneas, detalhes, enfim, qualquer coisa, literalmente, pode ser o objeto fotográfico, em especial no caso dos jovens. Assim, ocorreu uma banalização da imagem, que, utilizada apenas para revelar tais instantes a algumas pessoas, constituía-se numa atitude narcisista, sem fundamento, nem teor artístico, provocando um número expressivo de imagens capturadas automaticamente, onde se preza a quantidade e não a qualidade. Porém, como em todo os meios que reúnem indivíduos, existem exceções.

Seguindo a tendência de séculos anteriores que revelaram talentos juvenis, a exemplo do poeta Arthur Rimbaud, que fez verdadeiras obras-primas muito antes dos 30 anos, alguns jovens estão utilizando o meio virtual para desenvolver um trabalho mais consistente e voltado para a arte, adotando uma postura mais madura, direcionada para a criação de um estilo, um conceito ou apenas para imprimir sua essência e revelar sua forma de ver o mundo. Esse é o grande diferencial do Flickr em relação aos outros sites, é o que faz dele um canal para que seus participantes busquem construir um trabalho que será absorvido não só por seus amigos, mas por pessoas de todo o mundo, com diferentes vivências e olhares.

Em busca do inusitado

Romário Carnaúba, 20 anos, estudante de Administração da Ufal e apaixonado por fotografia, conheceu o Flickr vasculhando a Internet. Abriu sua conta em outubro de 2006 e, desde então, veicula suas fotografias favoritas no site, na verdade, exibe o que denomina como portfólio. Ele começou a fotografar em meados de 2004, época em que ganhou sua primeira máquina fotográfica, mas seu trabalho era voltado para um site de cobertura de eventos, na cidade de Viçosa, sua terra natal.

Apesar de não ter influências de fotógrafos famosos, preferindo se basear naquilo que observa, já possui um estilo próprio, utilizando jogos de luz e sombra, trabalhando com ângulos e composições, buscando desafios para fotografar o inusitado. Sobre a experiência de fotografar, ele afirma: “Em pequenos gestos, atos, eu enxergo uma fotografia... O mundo pára e só a cena que vejo se movimenta. É como num filme, tudo está escuro e eu só vejo a cena enquadrada”, enquanto fala, gesticula, em uma tentativa de mostrar alguns aspectos que prioriza em suas fotografias, como a espontaneidade. Quando sai com a câmera, sempre emprestada, pois está há um bom tempo sem o equipamento, busca não pensar no que vai capturar: “Deixo para o acaso, é o ver para fazer. Mas procuro transmitir sensações, sentimentos, por isso gosto de fotografar pessoas, capturar suas expressões, o movimento dos olhos”, segundo ele, à fotografia é possível até expressar palavras.

Com o Flickr, pôde compartilhar o seu trabalho com pessoas de todo o mundo, que, além de observá-lo, sempre tecem algum comentário, de um simples “parabéns” até análises mais profundas. Romário, que no site adotou a alcunha de Romaro, diz que o Flickr tem uma grande vantagem em relação aos demais sites, pois cede espaço para as fotografias, conservando a qualidade destas, o que é muito importante para os usuários do site, que se inscrevem nele, em geral, com o objetivo de expor suas produções. Em visitas ao site, ele afirma já ter conhecido muitos trabalhos dignos de outdoors, anúncios e exposições.

Em sua página, é possível visualizar fotografias de crianças, ensaios com uma banda de rock e com alguns amigos, imagens obtidas em um passeio pela feira e durante uma rave, temas variados, mas direcionadas para o foco artístico, pois pretende adquirir cada vez mais bagagem e, num futuro próximo, trabalhar com fotografia, provavelmente, publicitária.

Construindo um estilo

E foi conversando com Romário que Sionelly Leite, 20 anos, estudante de Jornalismo da Ufal, tomou conhecimento do site. Sua relação com a fotografia surgiu em 2005, quando a Universidade ficou parada por três meses, em decorrência de uma greve. “Ficava em casa, à tarde, sem fazer nada. Então, pegava a máquina, que estava jogada dentro de uma gaveta, e começava a fotografar o que achava interessante. Mas, com tantas tardes fotografando, fui buscando ver em cenas e situações do cotidiano uma nova visão... Foi a partir daí que comecei a achar a fotografia interessante, porque eu estava dentro da minha casa, e quando eu colocava a câmera diante de mim, era como se fosse tudo novo”, relembra.

Da intimidade de sua casa, saiu para as ruas, onde captura as diferentes realidades espalhadas pelas ruas maceioenses. Seu trabalho é mais voltado para o fotojornalismo, com influência do fotógrafo Sebastião Salgado, no qual tenta descrever situações por meio da captura de cenas ou expressões faciais, na linha de que uma imagem pode valer mais que mil palavras: “a beleza do fotojornalismo é poder mostrar às pessoas que elas passam pelas ruas, vêem crianças trabalhando, ao invés de estar na escola, e simplesmente ignoram. Através de uma foto, você vai poder fazer com que essa mesma pessoa pare e analise a mesma situação, de um outro jeito. Claro que a pretensão não é querer mudar o mundo, através disso, mas, de repente, fazer com que alguém sinta o que mesmo que você”, exemplifica.

Desde 2005, mantém suas fotos em sites direcionados para tal fim, mas, em maio deste ano, optou por canalizar seu trabalho em um só local, então, escolheu o Flickr, por sua proposta mais séria, que permite o contato com outras pessoas e a troca de informações construtivas. Trabalhando há dois anos e meio com fotojornalismo, ela tem recebido comentários positivos em seu Flickr: “não sei se por educação, mas as pessoas me dão incentivo, gostam do que faço... ainda tenho muito que aprender, estou no período de construção do meu estilo e de elevação da minha sensibilidade. Fotografia é algo muito incerto, porque tem aquele lance de ‘estar no lugar certo, com a câmera certa’.” Em relação ao seu estilo, nota-se uma melancolia poética, em crianças, idosos e mulheres, sempre destacando o olhar dessas pessoas.

Romário e Sionelly seguem ainda uma tendência que está em alta nos últimos tempos: a utilização do preto e branco, o que dá bastante expressividade às suas fotografias. “Eu faço as fotografias de modo normal, em cores, depois passo para preto e branco com um programa próprio para isso. Quero que as pessoas imaginem as cores, de acordo com o que sentem”, explica Romário.

Ponto de encontro

Na visão de Ricardo Maia, mestre em Psicologia Social pela PUC-SP, o Flickr é um movimento artístico-criativo internáutico, uma galeria virtual, algo típico da era digital. Ele considera que esta é uma proposta bastante interessante, pois permite que sejam realizadas trocas simbólicas de experiências estéticas, que influenciam no processo criativo, através do que denomina como sociabilidade intelecto-virtual. “Percebe-se que se formou um ponto de encontro virtual, de caráter criativo, que envolve uma tecnologia recente, caso da fotografia”, analisa.

Quanto à questão da mudança de foco, do caráter mais caseiro e festivo, para o artístico, Ricardo afirma que é uma revolução de uma cultura, algo como uma busca pelo encanto perdido, na qual cria-se uma identidade, através do diferencial. Isso é visível na necessidade que esses novos fotógrafos têm de retratar o cotidiano, constituindo-se numa prática quase científica de observação e experimentação, pois “o cotidiano é vida”. E é o diálogo com o outro que permite o crescimento do trabalho: “O indivíduo só pode ser reconhecido pelo outro, é uma espécie de espelho, que lhe permite ver suas falhas e o que faz de original”. O psicólogo afirma ainda: “Esse é um traço comum à sociedade pós-moderna, onde a imagem é cultuada ao extremo e a cibercultura reforça a dita ‘sociedade do espetáculo’.”.

www.flickr.com/photos/sil_leite

www.flickr.com/photos/romaro


Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 293

Afetos à mostra


“Afetos Roubados no Tempo”, um título forte para uma exposição que carrega elementos intensos da subjetividade de seus participantes, onde a proposta é agregar obras de arte de diversas partes do mundo, em um total de quatro continentes envolvidos – Américas, Europa, África e Oriente, por meio de 365 módulos, denominados “objetos-afeto”, que representam cada dia do ano. Idealizada por Viga Gordilho, artista plástica e doutora em Artes pela USP, e patrocinada pelo Caixa Cultural 2007, a exposição itinerante conseguiu reunir, no total, 730 artistas, e foi inaugurada em 2005, no Instituto Goethe, em Salvador, dirigiu-se, em 2006, para Recife, na Galeria Capibaribe, da Universidade Federal de Pernambuco; esteve, ainda nesse mesmo ano, no Museu Théo Brandão, aqui em Maceió e em São Paulo, no Espaço Eugénie Villien / Faculdade Santa Marcelina.

Desde o dia 29 de agosto, a exposição retornou a Salvador e, dentre seus participantes, estão 40 artistas alagoanos, a exemplo de Ana Glafira, Celso Brandão, Dalton Costa, Delson Uchoa, Francisco Oiticica Filho, Lula Nogueira, Maria Amélia, Persivaldo Figueirôa, Rogério Gomes, Tânia Pedrosa, Tchello d’Barros, Viviani Duarte e Wado. É a arte alagoana ampliando seus horizontes e rompendo fronteiras, nacionais e internacionais, pois de Salvador, a mostra seguirá para cidades européias e se instalará permanentemente na Universidade de Pretória, na África do Sul.

Tchello d’Barros, artista visual, recebeu o convite da curadora da mostra, Ana Glafira, e entrou no projeto como produtor executivo e exibindo um trabalho ousado: um livro objeto, contendo micro-poemas eróticos e um ensaio fotográfico com a mesma temática, que permitia ao público manuseá-lo e perceber a relação existente entre texto e imagem. Assim como ele, outros artistas alagoanos foram convidados a criar objetos que atendessem à proposta do projeto: “mostrar obras visuais que ecoem suas ‘matrizes’ de origem, aproximando culturas peculiares e artistas que nunca se encontraram”, a partir do diálogo de diferentes graus de trajetória e exercício poético e estético.

Ele acredita que a participação dos alagoanos no projeto é uma importante oportunidade da arte alagoana contemporânea conseguir uma visibilidade mais ampla no circuito das artes no Brasil e afirma que a participação de artistas alagoanos em projetos fora do Estado, dá-se pela falta de iniciativas dessa natureza por parte das instituições culturais em promover, resgatar e divulgar os valores culturais locais.

Quando esteve em Maceió, a exposição incentivou a produção inclusive de artistas iniciantes, que contribuíram com objetos, fotografias, e pinturas exercitados em diversos suportes e soluções originais. Tudo isto em pequenos formatos, 10cm² ou cúbicos, de acordo com Ana Glafira, curadora da mostra, um pré-requisito da exposição em função da quantidade de artistas e para ser possível aproximá-los em diversificadas montagens, que criou um cubo costurado à mão, com a Série Palavras Cotidianas ampliadas em lona.

Sobre as sensações proporcionadas aos visitantes pelos trabalhos apresentados, Ana Glafira, revela: “Depende do repertório de cada um e da disponibilidade de interagir com as proposições poéticas dos artistas. Então, não podemos responder quais são, mas podemos dizer que elas variarão do estranhamento, da repulsa, da negação até o não-estranhamento, a alegria, o prazer e o encantamento. ‘Cada um tem o sublime que pode e merece’, esta frase é minha, e a transformarei em flâmula e pára-choque de caminhão. Os sentimentos de sublimes podem ser atualizados ou não diante da complexidade da produção artística atual.”


Fase itinerante

A arte alagoana está realmente em um período itinerante. Tchello d’Barros estará expondo, a partir do dia 22 de setembro, uma obra no projeto cultural 1ª Primavera dos Museus, uma exposição coletiva de artistas brasileiros, cuja temática é “Meio ambiente – Museu, Memória e Vida. Segundo Tchello, sua proposta é dinamizar a relação do público com a modalidade literária do poema, que será apresentado com o recurso de uma instalação num paredão da instituição. Assim, o poema passa de informação literária, para uma obra visual e adquire conformação tridimensional. Sobre a obra, afirma: “O sentimento transmitido neste trabalho é muito positivo, até porque é uma poema que tem ampla aceitação popular e é um dos preferidos entre meus leitores. E gosto muito da proposta de libertar o poema da página do livro e apresentá-lo em outros ambientes e espaços”.

Já Ana Glafira está integrando o grupo de artistas que expõe, desde o último dia cinco, suas obras na Bienal B, em Porto Alegre. Ela foi selecionada através de um edital e apresenta, para o Sul do país, a região do Porto de Maceió, sob um olhar que foge da obviedade. As fotografias de Ana Glafira revelam fragmentos de um todo, num minimalismo poético e intenso, onde um filete de céu dialoga com a ferrugem de uma estrutura, por exemplo. Ela explica: “O porto sempre é registrado por olhares muito óbvios. Ir nos detalhes da monumentalidade das suas máquinas, objetos, navios e paisagens foi o meu interesse. É propor novos olhares através da geometria sensível e com isso tentar surpreender o possível público destas imagens decupadas, buscando abstraí-las de seu entorno”.

Nota-se que Alagoas está entrando em uma nova fase, de maior divulgação de sua arte, seguindo caminhos alternativos, em especial com mostras coletivas, que são a melhor forma de expressar a força cultural dos artistas locais.



Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 293


quarta-feira, 5 de setembro de 2007

De malas prontas


A maioria dos jovens sonha em ter uma banda, onde possa divulgar suas idéias, reunir-se com os amigos, tocar “para uma galera”, fazer shows, viajar pelo país – ou pelo mundo – mostrando o seu trabalho, mas até chegar lá tem muita estrada e algumas delas não passam da porta do estúdio. Esse não é o caso da $ifrão, remanescente da segunda geração de bandas de pop rock alagoanas, e que está de malas prontas para São Paulo, após fecharem contrato com a gravadora JT Records, para a gravação de seu 4º CD.

O aniversário de dez anos de carreira da $ifrão será em novembro, mas eles estão comemorando desde janeiro, promovendo shows e divulgando suas músicas, que, no início, possuíam forte ligação com o ska de bandas como Paralamas do Sucesso e Ultraje à Rigor, e que, com o passar do tempo, foram absorvendo influências do rock e do reggae. Durante esse período a banda teve algumas mudanças, alguns músicos saíram, outros entraram e, na formação atual, estão: Marcos Bruno - guitarra e voz, Thiago - percussão, Henrique - bateria, Carlos Cazamba - guitarra, Tony - baixo, Anderson – sax, e Ricardo – trombone. Eles se conheceram através de contatos em comum, pois sempre estavam nos shows e tocavam em outras bandas, o baixista diz que Maceió é uma cidade pequena, na qual todos se conhecem na cena musical.

Marcos é o único que ficou da primeira formação da $ifrão, também foi ele que batizou a banda: “A gente saiu chutando vários nomes, aí, não deu certo. Tivemos a idéia de ser um símbolo que representasse movimento, até pelo tipo de som que fazemos, tinha que ser também algo forte e conhecido, saíram uns quatro só... $ifrão foi o mais simpático e caiu como uma luva. Muita gente pergunta se o nome esta atraindo dinheiro, mas até agora nada. Quem sabe num futuro não muito distante?”, diz.

O maior sonho deles é poder manter-se com o trabalho que realizam, apesar de todas as dificuldades que têm de ser enfrentadas para se chegar ao reconhecimento com retorno financeiro. “Queremos um dia viver de música. Passar 24 horas compondo, tocando, gravando, levando nossa mensagem por aí, sabe? Temos consciência de que isso é o que temos de melhor, só que infelizmente ninguém consegue viver de música em Alagoas, poucas pessoas conseguem no Brasil. Por isso, temos que colocar o pé no chão e continuar nos nossos empregos, mas sem abrir mão da música”, explica Marcos. Tony, que está há cerca de sete meses na banda, completa: “Tocamos por prazer, por satisfação, por amor à música, por acreditar em nosso trabalho. Temos nossas profissões, mas acreditamos em nosso potencial musical”.

Marcos é formado em Administração, Henrique é turismólogo, Thiago é formado em Administração e Marketing e é estudante de Direito, Tony estuda Marketing, Cazamba se formou em Publicidade e trabalha na Polícia, Anderson é funcionário público e Ricardo, professor de informática. Marcos, Henrique e Tony são ainda empresários. Pode-se notar que eles não seguem o padrão estereotipado do universo rock’n’roll, têm suas responsabilidades, com profissões sérias, mas sem deixar de investir na paixão pela música.

Marcos Bruno é o compositor oficial da banda, ele faz a maioria das letras e músicas, que, em geral, falam de amor, de uma consciência de mundo e de esportes, principalmente o surf, mas os demais músicos sempre imprimem sua marca. Os esportes são de grande importância para os membros da $ifrão, segundo ele, a música e o esporte sempre estiveram presentes em suas vidas e as músicas que produzem servem de trilha sonora para os esportes que praticam, como surf, jiu-jitsu, rapel, trilhas de bike e corridas de aventura.

Nazaré e os amigos

Quanto à discografia, a banda possui dois CDs demo e um profissional. O primeiro foi lançado em 1997, ano em que a banda se formou e foi intitulado Lançamento Vertical. Três anos depois, eles montaram um trabalho mais focado no universo do surf, chamado Dialeto do Mar, que trouxe uma transformação na vida deles. Os integrantes da $ifrão resolveram divulgar esse CD em Minas Gerais e acabaram se mudando para lá, onde permaneceram por dois anos.

Em Minas, fizeram muitos contatos e passaram por aquelas situações que todos aqueles que levam uma vida “em banda” têm de enfrentar. O vocalista da banda contou uma dessas histórias: “Colocávamos toda a grana para alimentação numa conta do banco, justamente para evitar gastos desnecessários, não andávamos com o dinheiro ‘vivo’, e sim com o cartão. Num sábado à tarde, durante um churrasco irado, o cartão quebrou e o problema maior era que não tínhamos feito a feira do final de semana. A sorte é que, na casa que tínhamos alugado, tinha uma mangueira. Então, a manga foi o cardápio da galera, de sábado à noite até segunda pela manhã. Até hoje não como manga por causa disso (risos). Foi sinistro, mas eu achei muito engraçado. Depois do acontecido...”.

Em 2005, foi a vez de Além do Vento, primeiro CD profissional, lançado pela Radiola Records e distribuído pela Tratore, que teve a produção musical de Dalton Palmieri e 200 horas de estúdio, entre gravação, mixagem e masterização. A $ifrão possui dois clipes lançados na MTV Brasil, Espero o Verão Chegar e Além do Vento, ambos gravados de forma independente contando com a participação de amigos. “No primeiro clipe, Espero o Verão Chegar, a gente gastou R$ 40,00, mas mesmo assim estreou na MTV, ficou muito engraçado. Inclusive a Nazaré, empregada lá de casa, foi a ‘musa’. Já no segundo clipe, Além do Vento, queríamos uma coisa mais profissional e contratamos o Derick. Lógico que a Nazaré teve que fazer outra participação, né? Deu sorte! E o clipe estreou na MTV Brasil, de novo!”, relembra Marcos.

Suspense

No ano retrasado, Marcos e Henrique levaram 200 unidades do CD Além do Vento para São Paulo, com o objetivo de fazer uma divulgação do trabalho, e os distribuíram em rádios, zines, jornais, selos, gravadoras, produtoras e para outras bandas. O resultado foi positivo, o som deles começou a tocar nas rádios paulistas e foi quando veio o convite da JT Records. No máximo, em 10 de setembro, eles estão embarcando para São Paulo, onde será gravado o quarto CD, que promete ter no encarte algo que remeta ao mar ou ao surf, pois ainda não decidiram qual será a música de trabalho.

No caso do terceiro CD, a música de trabalho escolhida foi Além do Vento, o que culminou com uma arte contendo elementos ligados ao vento, como a pipa e o ventilador. Além do Vento recebeu vários elogios da crítica e o objetivo dos músicos da banda é alcançar o mesmo sucesso e “furar” o mercado, para tanto, terão o apoio de uma agência de publicidade. Tony diz que o desejo deles é conquistar, pelo menos, a região Nordeste, mas afirma que, segundo contrato com a gravadora, o CD será distribuído para todo o país.

Quanto ao CD, de um modo geral, Marcos faz suspense: “O público pode esperar um trabalho muito profissional, pé no chão, com participação de alguns nomes da cena brasileira e que vai agradar a gregos e troianos. Preparem-se”. Esses artistas nacionais não podem ser revelados devido aos termos do contrato assinado com a gravadora.

“Despedida”

No dia 06 de setembro, próxima quinta-feira, a banda $ifrão realizará o seu último show antes da viagem, a Festa Dez, que marca o encerramento do 13º Encontro Norte e Nordeste de Ciências Sociais - AVAL II - CISO – UFAL.

O evento contará com a participação de dez bandas: $ifrão, Poeira Nordestina, Gato Zarolho, Alfagraus, Maqiavel, Os Giramundos, Super Amarelo, Dona Maria, Vitor Pirralho e Dom e Expressão, além da Tenda Eletrônica Colcci. Serão realizados sorteios de dez brindes, da Colcci, Chilli Beans, Bali Hai e Ponta Verde Tatoo e Piercing, e exposição de artes. As dez horas de festa serão regadas a tequila, pelos tequileiros da Adega do Farol, gratuitamente. O show será na Taberna, em Jaraguá, e os ingressos estão sendo vendidos na Colcci e no Baba Som, o preço é de R$ 10,00. Mais informações sobre a banda podem ser obtidas no site: www.sifrao.com.br


Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 292