Era uma vez, um jovem que queria ser jogador de futebol e acabou virando cantor. Começou nos bares, participou de festivais, compôs canções que fizeram parte da trilha sonora de novelas e, após muito empenho, conseguiu entrar nas paradas musicais e arrebatar multidões. O ano era 2002, e o Brasil cantava uma música que falava de amor, um sentimento intenso, que pertencia a um artista também intenso. A música era Que Nem Maré, e o cantor, Jorge Vercilo, que será a próxima atração do projeto MPB Petrobrás.
Nesta entrevista exclusiva, dada por telefone, ele falou da sua carreira, da sua relação com Maceió e com o Nordeste, do mercado musical, do futuro da música e dos CDs, com a chegada de novas tecnologias. Jorge fala também da experiência de participar do projeto MPB Petrobrás, tece críticas à Lei de Meia-entrada e promete um show verdadeiro, que certamente vai refletir a boa fase que está vivendo, com canções de seu DVD “Ao Vivo”, sucessos de outras épocas e a canção inédita Líder dos Templários, composta para um show em homenagem a São Jorge.
Como começou a sua carreira?
Comecei minha carreira tocando na noite. A noite foi minha grande escola, nos bares, conhecendo músicos, compositores e, a partir daí, eu comecei a participar de festivais, através da minha verve de composição, da inspiração de compor, de criar, e neles, eu testava minhas músicas.
Qual a sua relação com os festivais?
Eu me lembro que, em 1988, estava concorrendo no Festival de Avaré – SP, com a música Encontro das Águas, uma música inédita, que ainda não tinha sido gravada, composição minha e do Jota Maranhão. Ficamos em segundo lugar... Participei várias vezes do Festival de Avaré. Em 1989, concorri com Alegre, música do meu primeiro disco, em Curaçau, no Caribe. Em 1991, participei do Festival do Carrefour, com a música Meia Luz. Então, foram vários festivais, culminando com o último que eu participei, da Rede Globo, no ano 2000.
Quais são as lembranças que você tem do show que fez em Maceió, no início de sua carreira?
Esse show de Maceió foi a primeira vez que eu saí do Rio de Janeiro para fazer um show em outra cidade, profissionalmente e não para tocar na noite. Isso me marcou muito... Me marcou muito a figura do Marcão Assunção, do Geraldo Henrique, que montou a banda e, principalmente, do Felix Baigon, que fez essa ponte (Rio-Maceió) e tocou comigo... Lembro do Pianola, de músicos da banda, foi super legal. E eu levei a Gabriela (sua esposa), foi maravilhoso! Além do trabalho, foi uma viagem maravilhosa! A gente passeou com o Rufino, dono do Restaurante Manzuá, e a esposa dele... Depois eu fiz um show em Imperatriz do Maranhão, lotado, com muita gente. Então, o Nordeste tem uma ligação muito presente no meu início de carreira e até hoje, graças a Deus!
Quais são suas influências musicais?
São várias, eu tenho influência de toda a MPB. Mas eu estou compondo a minha nova safra de músicas com um quê nordestino, meu próximo CD vai sair com muita coisa nordestina, além da sonoridade brasileira. Claro que com algumas mudanças, sempre com algumas inovações, mas acho que vai ser o meu disco mais brasileiro.
Como você vê o mercado musical atualmente?
Artisticamente, o mercado está muito bom. Eu acho que desde a virada do novo milênio, abriram-se grandes espaços para novos artistas, toda hora tem gente nova tendo oportunidade de aparecer. Isso é muito bom, é a maneira mais próxima de uma democracia musical. Mas nem todo mundo fica à luta pela prateleira, pela evidência, pela exposição.
Qual a sua opinião sobre o mercado de música independente?
Bom, o meu terceiro CD, Leve, que aconteceu com a música Final Feliz, foi independente e estourou primeiro no Nordeste, em cidades como Fortaleza, Recife, Salvador, foi para Maceió, Maranhão, e depois, para o Rio e todo o Sudeste. Foi um disco importantíssimo na minha carreira, e era independente. Depois ele foi contratado e relançado pela EMI, uma grande gravadora... Então, eu acho que, mais do que nunca, artistas pequenos, médios e grandes estão trabalhando no independente e, hoje em dia, o independente está de igual para igual com as gravadoras.
Com o surgimento das novas mídias, na sua opinião, qual o futuro da música e dos CDs?
Eu vejo um futuro luminoso para a música. A música nunca vai deixar de existir, nem a expressão dos artistas, dos compositores, dos arranjos. Só que o CD, talvez possa sofrer alguma transformação, com essa questão da música digital, da Internet. Nesse momento, a gente já sabe que o DVD está tendo uma procura maior que o produto do CD, não que o CD não tenha um consumo, mas, hoje em dia, ele virou exatamente o que era a fita cassete. Você comprava a fita virgem e gravava o que queria. Então, o CD é um suporte maravilhoso para isso, para gravar com uma tremenda qualidade, em comparação ao que eram as fitas antigamente, ao que era o vinil. Se bem que o vinil já tinha uma qualidade imensamente superior, mas eu acho que o papel do CD será o de uma mídia para gravar arquivos e para transferência de dados.
Recentemente, o Ministro da Cultura, o cantor e compositor Gilberto Gil, disponibilizou sua obra para livre acesso na Internet. O que você acha disso?
A MINHA OBRA? ELE FEZ ISSO SEM A MINHA AUTORIZAÇÃO?
Não, não. A obra dele.
(Risos) Eu sei, estou brincando contigo. Mas eu acho interessante. O Gil sempre teve esse perfil inovador, sempre esteve ligado à vanguarda, à ponta das atitudes, à tecnologia. Ele acaba abrindo caminhos e iluminando as idéias de outras pessoas. É uma atitude bem legal, até pelo lastro que ele tem, de carreira, de quantidade de repertório, que o possibilita a fazer isso sem se perder, acho que ele só tem a ganhar.
Tendo em vista o material que você tem contato em suas turnês, você pode destacar um novo talento?
Paulo Façanha, do Ceará, um compositor de mão cheia, um excelente cantor, que faz uma MPB moderna, contemporânea. Ele até tem uma influência da minha música e eu já gravei música dele. Tem o Kiko Furtado, da região dos Lagos - RJ, muito legal o trabalho dele... Zé Ricardo, do Rio de Janeiro. É que tem tanta gente... Patrícia Melo, do Piauí, é muito bom o trabalho dela. Enfim, são muitos.
Como vai ser a sua turnê com o projeto MPB Petrobrás?
Serão 10 shows em 12 dias, então, até me lembrei e voltei a falar mais baixo para poupar a voz, porque é cansativo, algo muito intenso, você não tem muito tempo para descansar... Mas eu tenho certeza de que vai ser muito bom tocar para um público que, normalmente, não teria condições financeiras de comprar o ingresso para ir a um show de MPB com grande estrutura, como é o nosso, que tem uma banda, uma equipe, onde os contratantes têm todo um gasto com passagem, estadia, alimentação, diárias. Uma estrutura muito grande, que necessita de equipamentos, mídia e tudo isso tem sido muito prejudicado por uma política errada chamada Lei da Meia-entrada, pois essa lei, aqui no Brasil, não tem uma quantidade limitada e isso faz com que o contratante se obrigue a aumentar absurdamente o preço do ingresso, para que a metade do preço seja compatível, já que muita gente que nem estudam mais, tem carteira de estudante. Todos os países do mundo, onde há a meia-entrada, ou ela é limitada, ou o governo subsidia os outros 50% dos ingressos para o realizador do evento, para cobrir as despesas. Mas aqui no Brasil, o Governo tem essa mania de fazer “média”, trabalha com o suor dos outros, como tudo aqui no país, essa hipocrisia, esse populismo. Mas, esse não é o caso da Petrobrás, o ingresso é barato pelo projeto, pelo patrocínio da Petrobrás, é algo válido e eu estou super contente de estar participando dessa caravana.
O que o público alagoano pode esperar do seu show?
O alagoano pode esperar um show intenso, verdadeiro. Estou numa fase muito feliz! Estou levando para esse show o repertório e o roteiro do meu DVD, meu primeiro DVD. Incluí várias canções, as mais importantes da minha carreira, temas de novelas, como Fênix, Ciclo, Encontro das Águas. Músicas novas, novas parcerias, como Abismo, sucessos radiofônicos, como Que Nem Maré. E músicas recentemente lançadas, como Vela de Acender, Você é Tudo, e ainda vai trazer a canção Líder dos Templários, que é inédita, uma parceria com o Jorge Aragão e com o Jorge Benjor. Essa música foi feita para um show que ocorreu no dia 23 de abril, na Praia de Copacabana, em homenagem a São Jorge, reunindo 4 artistas: Jorge Mautner, Jorge Benjor, Jorge Vercilo e Jorge Aragão. O show será lançado em DVD com o título: Coisa de Jorge.
Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 287
2 comentários:
Olá! Muito legal a entrevista e também os outros textos do seu blog:-)
Aeeeeeee....começou bem ein? Jorge Vercilo....q pena q n pude ir pro show os ingressos acabara logo....
Se prepare pq vou virar frequentador assiduo desse blog vun....bjuuuu
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