sábado, 21 de julho de 2007

Sargento Pimenta quarentão


Um álbum revolucionário, que prenunciava a nova fase que a humanidade viveria a partir dos anos 1970. Ruídos se misturam a aplausos, vozes aceleradas, sons de animais, de parque de diversões, um sino, distorção nas guitarras, uma orquestra com 41 músicos, cítara e outros instrumentos da música oriental, um clímax romântico crescente, um toque de despertador, tudo isso encerrado por 27 segundos de uma gravação perturbadora, concebida em um processo onde as vozes foram capturadas e a fita foi cortada e remendada aleatoriamente. O resultado foram risadas seguidas de uma frase indecifrável que descreve um movimento cíclico, partindo de um ouvido ao outro. Na capa, quatro jovens, em roupas espalhafatosas e coloridas, misturados a celebridades como Karl Marx, Oscar Wilde, Bob Dylan, Marilyn Monroe, Edgar Alan Poe, além de plantas, bonecos e flores.

Pura psicodelia! Essa é a forma mais apropriada de descrever o que a banda inglesa The Beatles fez com a música em Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band – é assim mesmo que se escreve, embora a maioria das pessoas ainda insista em colocar “Sargent”, que numa tradução literal seria algo como A Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta. Em 2007, tal obra-prima do rock ‘n’ roll está completando 40 anos. Na verdade, a inserção de inovações, que provocavam no ouvinte uma confusão quase palpável, já podiam ser percebidas em seu disco anterior, Revolver (1966), mas é em Sgt. Pepper’s que essa técnica alcança o seu ápice. O álbum encanta pelo fluxo criativo e pela ousadia, não só da sonoridade, mas também das composições que mesclam reflexões, notícias de jornais, programas de televisão e até uma propaganda de um famoso cereal matinal.

Por sua capacidade de sempre se superar e surpreender a todos, o grupo atravessa gerações e mesmo com o seu término, têm suas canções gravadas no inconsciente coletivo e, há anos, influenciam a produção musical de bandas em todo o mundo. Em Maceió, a maioria das bandas que faz um som retrô “bebeu” de todas as fases dos Beatles. Algumas delas são covers dos “garotos de Liverpool”, como Os Beesouros e outras optaram pelo campo da criação de um repertório próprio, mas que possuem os típicos backing vocals, o diálogo entre as guitarras, as letras bem construídas, caso da A Banda e da Mopho, que há um certo tempo já entrou no circuito musical nacional.

Essas três bandas concordam em um ponto: Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band é um álbum fantástico, uma alquimia musical. João Paulo, vocalista e guitarrista da Mopho o define assim: “Definitivamente uma obra-prima esse disco!
Canções inspiradíssimas, arranjos primorosos, mixagem impecável, com os parcos quatro canais disponíveis na época; timbres matadores, sem a utilização dos ‘famigerados’ simuladores; belíssimo projeto gráfico, entre muitos outros atrativos.
A impecável execução dos instrumentos pelos quatro músicos revelou uma evolução espantosa. Marcou a minha vida e influenciou demais o meu trabalho com a Mopho”.

Mopho desponta no cenário musical

João Paulo - guitarra, violão e voz, Nardel Guedes - guitarra, Mano - baixo, Dinho Zampier – teclados, e Adriano Lima - bateria. Essa é a atual formação da Mopho que, ao longo de seus 11 anos de estrada, sofreu algumas alterações, mas manteve um trabalho autoral embasado na obra dos Beatles e de outros artistas, como Mutantes, Secos e Molhados, Led Zeppelin e Raul Seixas. Em meados de 1996, começaram a gravar CDs-demo e enviá-los a selos e revistas especializadas, assim, despontaram no cenário underground do rock nacional. Na cena musical alagoana, ficaram mais conhecidos pelo CD-demo Não Mande Flores (1998), a música que intitulava a demo foi bastante difundida e transformada em um hit lembrado até os dias atuais.

Em 1999, após assinarem contrato com a gravadora Baratos e Afins, conseguiram entrar no mercado e viajaram o Brasil apresentando suas composições. Percorreram São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Joinvile, Recife, Garanhuns e Aracaju, em diversos festivais, a exemplo do Abril Pro Rock, Porão do Rock, Festival de Inverno de Garanhuns, Projeto Balaio Brasil do SESC e do FMI, que ocorreu no ano passado, aqui em Maceió, no Teatro Deodoro.

Ainda em 2006, a Mopho conquistou mais uma vitória em sua carreira. A música Quando Você me disse Adeus, do segundo CD da banda Sine Diabolo Nullus Deus, lançado em 2004, entrou na trilha sonora do longa-metragem de animação Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock‘n’Roll, do diretor Otto Guerra, além disso, a canção faturou o prêmio de melhor trilha sonora no Festival Cine-PE. A capa deste CD faz uma explícita alusão a um álbum dos Beatles que faz grande sucesso entre seus fãs, Rubber Soul, que eternizou as canções Michelle, Girl e In My Life.

"A Banda" já teve diversos nomes

A princípio uma banda de punk, A Banda surgiu com o interesse de tocar músicas dos Beatles e dos anos 1950 e 1960. Segundo Ivan Lopes, 23 anos e líder da banda, sob a influência dos filmes De volta para o futuro e The Wonders, em especial o primeiro, que mostrava o personagem de Michael J. Fox tocando em festas de formatura. Então, após a seleção das músicas que seriam tocadas e alguns ensaios, A Banda foi à luta e realizou algumas apresentações em formaturas, casamentos e festas de amigos. Desses shows, notaram a necessidade de abranger músicas de outras épocas, para tanto, escolheram um repertório que compreende de 1950 a 1990.

A Banda já teve diversos nomes, alguns impronunciáveis, outros que mais pareciam aqueles seriados enlatados da tevê americana. A idéia era que houvesse uma identificação e uma relação de proximidade entre o público e a banda, então os integrantes pensaram em Os Caras e depois em A Banda. Ivan explica que não é nada pretensioso: “Era um nome legal e quando tivesse show, a galera diria: ‘E aí? Vai pro show dos Caras?’ e o resultado acabou sendo o mesmo para A Banda: ‘Vai ver A Banda hoje?’, por exemplo. Isso não quer dizer que somos A banda, num sentido arrogante... Somos A Banda. Também é uma alusão à música do Chico Buarque”.

No momento, A Banda está em coma. Ivan – piano, guitarra e voz, Davi – guitarra e voz, e Igor – baixo e voz, estão buscando um baterista para voltar à ativa, não só com os covers, mas com as canções de autoria própria, pois já possuem cinco músicas prontas.

Os Beesouros e suas composições

Fã dos Beatles “desde a barriga da mãe”, o baixista Eugênio Macca é o único remanescente da The Beatles Again. Há um ano e meio retornou a fazer a música que “alimenta sua alma” e com a companhia de Samuel Winston – voz e guitarra, Júnior Martin – guitarra e voz, e Thiago Alef - baterista e caçula da banda, fundou Os Beesouros, cujo nome é uma tradução do termo beetles, que, com a alteração de uma letra, originou Beatles.

O grupo é uma sopa de gerações, como afirma Júnior, os integrantes têm entre os 19 e os 40 e poucos anos. Sempre que podem, reúnem-se para ensaiar, trocar discos e opiniões, definir as canções que irão tocar. Júnior, por exemplo, possui todos os discos dos Beatles, de vinil, uma verdadeira raridade. Eles buscam manter os acordes, tons e solos das versões originais, o que demanda horas de audição, nada demais para esses beatlemaníacos. Eles possuem ainda um projeto social, no qual destinam 10% do lucro obtido em shows para instituições de caridade.

Os Beesouros estão enveredando pelo caminho das composições próprias, o que consiste em um processo de amadurecimento. Suas letras são em português e possuem temáticas variadas, com pitadas de “água com açúcar”, e, é óbvio, uma grande influência do estilo Beatles de fazer música.



Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 286

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