segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Bodas de celulóide

Foto: Vitor Braga


As imagens pictóricas encontradas nas cavernas já apresentavam representações de movimento, por meio de desenhos em seqüência. Data de 5.000 a.C., os jogos de sombras realizados na China, onde histórias de guerreiros eram contadas através da projeção de figuras humanas e de animais em paredes ou telas de linho. Leonardo da Vinci, não se restringiu às artes plásticas e mostrou-se um grande inventor, sendo responsável não só pelo protótipo do pára-quedas e do tanque de guerra, mas da câmara escura, criação que tinha um funcionamento semelhante ao olho humano. Depois vieram outras tentativas, o cinetoscópio de Thomas Edison, responsável pela introdução do som no cinema, e o cinematógrafo, invenção dos irmãos Lumière, que deu nome à sétima arte. Daí, o cinema deslanchou e espalhou-se pelo mundo, encantando gerações.

Existente desde 2003, o cineclube Antes Arte do que Tarde, que surgiu após uma oficina dada pelo cineasta Hermano Figueiredo no FUCA – Festival Universitário de Cultura e Arte, está completando um ano de parceria com o Sesc – Serviço Social do Comércio, e para as comemorações, prepararam uma programação especial. De acordo com Rafhael Barbosa, coordenador do cineclube, a intenção do evento é fazer um apanhado do que foi mostrado de melhor durante esse período, mas também trazer novidades, como o curta Texas Hotel, do cineasta pernambucano Cláudio Assis, diretor dos filmes Amarelo Manga e Baixio das Bestas, que estará presente no dia 05 de agosto, quando a parceria completa um ano. Entre curtas, médias e longas-metragens foram quase 100 filmes, dos quais 29 foram escolhidos para compor a mostra que se inicia a partir do dia 02 de agosto (ver box com a programação).

Com exibições semanais, “a proposta do cineclube é apresentar filmes que estão repercutindo no cenário nacional, nos festivais e abrir espaço para produções de qualidade que estão fora do circuito ou que foram pouco mostrados, incluindo filmes alagoanos, que fazemos questão de exibir”, afirma Rafhael. Mas o Antes Arte do que Tarde não se restringe apenas à exibição de filmes, são promovidas discussões, que abordam desde a concepção do filme, até a linguagem e aspectos técnicos. Entre os espectadores, estão psicólogos, advogados, cientistas sociais, cinéfilos e cada um contribui com a sua visão.

Membro da primeira safra do cineclube, o estudante de Letras Ivan Castro, considera que a iniciativa é bastante interessante, principalmente em Maceió, que possui poucas salas de cinema e um espaço limitado para a exibição de filmes não-comerciais, constituindo-se em mais uma opção para a cena cultural da cidade. Ele recorda que o primeiro filme que o cineclube apresentou foi Cangaceiro, de Lima Barreto, na época, ainda não tinha recebido o nome Antes Arte do que Tarde, que surgiu após um encontro que visava a reestruturar o movimento cineclubista, ocorrido em Rio Claro – SP, e foi retirado de um texto que circulava no evento.

Semelhança de interesses

Nadja Rocha, técnica de Cinema do Sesc acredita que a parceria funciona porque existe uma semelhança de interesses entre a instituição e o cineclube, pois o Antes Arte do que Tarde realiza um trabalho educativo, construído pouco a pouco, por meio de uma atividade feita em conjunto. Devido às discussões, o público interage com a obra de maneira reflexiva.

Ela afirma ainda que o Sesc, envolvendo-se com o projeto, buscou dar possibilidades para que a atividade permanecesse na grade, por exemplo, no início, as exibições ocorriam aos sábados, mas para atrair o público, foram transferidas para as segundas-feiras. A idéia de fazer a parceria foi do cineclubista Wendel Palhares, tendo em vista a carência de estrutura física do Espaço Cultural da Ufal e a falta de prioridade no auditório da reitoria, localizado no campus da Universidade, pois eles precisavam de um espaço que lhes proporcionassem exibições ininterruptas. E foi o que conseguiram no Sesc.

Impulso inicial

O grande responsável por esse despertar para o universo cineclubístico foi o cineasta Hermano Figueiredo, que, há 30 anos, dedica-se ao cineclubismo. “Os cineclubes são uma espécie de mangue onde todo um mar de informações sobre o cinema pode nele desaguar, eles geraram obras primas, principalmente na década de 1970. Muitos realizadores de cinema começaram com cineclube, como foi o caso de Glauber Rocha”, afirma. E é assim que funciona. Os participantes trocam informações sobre os diretores, planos, cortes, simbologia dos personagens, enfim, dissecam as obras.

Hermano será homenageado no primeiro dia do evento, com a exibição de filmes de sua autoria, inclusive Calabar, ganhador do prêmio Doc-TV III, promovido pela TV Educativa. Ele considera que a rede de cineclubes proporciona não só a formação de consciência crítica, mas a democratização da relação existente entre público e cinema, e vai além: “os cineclubes proporcionam a democratização da informação”.

Sobre a oficina dada no FUCA, recorda: “Eram poucos estudantes, mas a oficina despertou neles o interesse pela atividade cineclubística e, depois de quatro anos, a chama não se apagou”. Notando o interesse de outros jovens, está desenvolvendo, através da ONG Ideário, um manual para o cineclubismo, que fornecerá todas as informações quando à escolha e análise de um filme, como montar um cineclube, respondendo às dúvidas mais freqüentes daqueles que pretendem ingressar nesse movimento.

Antes Arte do que Tarde


Os atuais integrantes do cineclube Antes Arte do que Tarde são Rafhael Barbosa, Wendel Palhares, Monique Momberg e Larissa Lisboa. As exibições acontecem todas as segundas-feiras, às 19h, no Teatro Jofre Soares, do Sesc Centro. A entrada é gratuita.

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

Quinta-feira, 02/08

São Luís Caleidoscópio (2000, 8min.), A Última Feira (2005, 17 min.), Calabar (2006, 52min.)

Direção de todos: Hermano Figueiredo

Sexta-feira, 03/08

Palíndromo (2001, 11min.) - Direção: Philippe Barcinski, A Canga (2001, 12 min.) - Direção: Marcus Vilar, Superoutro (1989, 48 min.) - Direção: Edgar Navarro, A Pessoa é Para o que Nasce (1998, 6 min.) - Direção: Roberto Berliner.

Sábado, 04/08

Estrada (1995, 17 min.) - Direção: Jorge Furtado, Yansan (2006, 18 min.) - Direção: Eduardo Nogueira, Entre Paredes (2005, 15min.) - Direção: Eric Laurence, Estamira (2004, 127 min.) - Direção: Marcos Prado.

Domingo, 05/08

Vida Maria (1999, 8min.) - Direção: Márcio Ramos, Sintomática Narrativa de Constantino (2000, 23 min.) - Direção: Carlos Dowling, Texas Hotel (1999, 14min.) - Direção: Cláudio Assis, Edifício Máster (2002, 110 min.) - Direção: Eduardo Coutinho.

Segunda-feira, 06/08

Rua da Escadinha, 162 (2003, 18min.), No Princípio Era o Verbo (2005, 18 min.)Tarantino´s Mind (2007, 15min.) - Direção: 300Ml, Nós que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos (1998,73 min.) - Direção: Marcelo Masagão. -Direção: Virgínia Jorge,

Segunda-feira, 13/08 – Filmes da Casa de Cinema de Porto Alegre

Oscar Boz (2004, 12min.), O Sanduíche (2000, 13min.), Ângelo Anda Sumido (1997, 17 min.), Estrada (1995, 17 min.), Veja Bem (1994, 9 min.).


Direção de todos: Jorge Furtado

Segunda-feira, 20/08 – Filmes da Casa de Cinema de Porto Alegre

A Matadeira (1994, 16 min.), Esta Não é Sua Vida (1991, 16 min.), Barbosa (1988, 13 min.), Ilha das Flores (1989, 12 min.), O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986, 14 min.).

Direção de todos: Jorge Furtado

Segunda-feira, 27/08 – Filme da Casa de Cinema de Porto Alegre

Houve uma vez dois Verões (2002, 75 min.) - Direção: Jorge Furtado



Publicado no jornal A Notícia - Ano VI - Edição Nº 288

Um comentário:

Estêvão dos Anjos disse...

ótima reportagem Paulinha há tempos que o Cineclube vem marcando presença no cenário cultural alagoano e nd mais merecido q eles colham os frutos de tanto empenho...